Há uma semana eu tive a oportunidade de fazer uma caminhada por volta das 5:40 da manhã. O céu estava começando a trocar de cor, passando lentamente do negrume da noite para um azul ainda escuro característico da manhã. Ainda era possível ver um gradiente dessas duas cores colorindo o céu. O sol iria nascer à minha direita em instantes e ao olhar nessa direção eu percebi, entre duas montanhas, um ponto muito luminoso resistindo a claridade que nossa estrela jogava naquela região. Estranhamente, o ponto parecia distante, mas próximo ao mesmo tempo; como se eu pudesse alcançá-lo se seguisse na sua direção e erguesse a mão. Lá ao longe, entre aquelas duas montanhas, “brilhava” Vênus.
Observar aquele ponto brilhante no céu logo pela manhã me trouxe alguns pensamentos e sentimentos que eu tentarei transformar em texto.
Nós, seres de 1,7m de altura, estamos acostumados com a ideia de que a Terra é grande; e ela de fato é, se a compararmos com nós mesmos. Vênus, nosso planeta vizinho é pouco (em escala planetária) menor que a Terra. Ver um planeta ser reduzido a um pequeno ponto brilhante no céu dá uma ideia do quão grande é o Sistema Solar. E pensar que o Sistema Solar é só um minúsculo ponto “perdido” em meio a Via Láctea e que a Via Láctea é só mais uma entre bilhões de galaxias no Universo nos dá uma ideia de quão vasto é o Universo.
E saber a dimensão do Universo nos permite perceber o quão pequenos e insignificantes nós somos. Para muitos essa é uma visão muito deprimente, é uma visão triste que nos tira um possível significado para a vida. E por isso as pessoas fogem dela com bastante frequência.
Mas para mim a percepção dessa realidade nos ensina bastante sobre humildade. Pegue um ser humano típico, como eu ou você, e olhe para todas as realizações dessa pessoa, olhe para todo o conhecimento que essa pessoa já adquiriu e gerou, olhe também todo o mal que ele ou ela já fez a este planeta. Agora compare tudo isso a todas as realizações, conhecimento,bondade, maldade, etc. da humanidade. Essa pessoa tem tanto significado dentro da espécie humana quanto um planeta dentro do Sistema Solar. Essa pessoa, vista de fora, é apenas um pontinho que pode até mesmo brilhar, mas que é facilmente ofuscada pelo resto do Universo.
Por falar em ser humano, eu gosto muito de utilizar uma das características mais fantásticas da nossa espécie, a imaginação, e fazer suposições dentro de um cenário impossível. Talvez alguém pergunte qual a utilidade disso, e eu respondo que nem tudo precisa de uma utilidade; pensar simplesmente pelo fato de pensar é algo que todos deveriam fazer. Imagine, por um momento, que Vênus tenha consciência de seu lugar no Universo, será que nosso vizinho encararia isso como algo triste, assim como nós?
Durante um episódio da série Cosmos, Carl Sagan é perguntado por uma garotinha se o Sol é considerado parte da Via Láctea. E ele responde “Claro. Você é parte da Via Láctea[…]”. Carl Sagan tinha um ponto de vista bem romântico quanto ao nosso lugar no Universo e é esse romantismo que torna Cosmos uma série tão fascinante. Não é fácil encarar a realidade de nós somos apenas um aglomerado de moléculas complexas trabalhando juntas para “driblar” a Segunda Lei da Termodinâmica. Mas enxergar a verdade através desse viés romântico é no mínimo mais reconfortante.
Portanto, a conclusão de eu tiro de tudo isso é que por maior que uma pessoa pense ser, ela ainda é minúscula diante de tudo, mas mesmo assim, ela ainda faz parte de algo incrível: a humanidade. E a humanidade faz parte de algo mais incrível ainda: o Universo.